Considerado um herói municipal por ter participado da Segunda Guerra Mundial, o farturense Dionysio Bortoti completou neste mês 100 anos e a comemoração foi diferente com carreata pelas ruas de Fartura e uma reunião somente com seus familiares devido à pandemia.
Nascido em 20 de março de 1921, o tenente aposentado teve como companheira a senhora Zenith da Silva Bortoti, mais conhecida por Marina (in memorian). O casal teve duas filhas, Ana Patrícia e Maria da Conceição, genros Gilberto e Pedrinho (in memorian), netos João Rafael, Júlio, Isabela, Maria Carolina, Simone e Lilian e os bisnetos Marina e Daniel.
Filho de lavradores, Seu Dionysio, como é conhecido, nasceu na propriedade rural de sua família, que fica situada no “Bairro dos Bortoti”, em Fartura.
“Fui a primeira criança a ser batizada na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores de Fartura, após sua reconstrução. Meus padrinhos eram o Dr. José Del Cistia e sua irmã Catina. Desde tenra idade, exerci o labor rural. Estudei lá no sítio, onde eu e minha família morávamos. A minha primeira professora foi a esposa do Sr. João Rolin, chamada Nair. Posteriormente, meu pai passou a pagar um “professor particular”, chamado José Del Corso, um rapaz que era das lidas campesinas, mas tinha conhecimento e lecionava para mim, meu irmão, Eduardo, mais três ou quatro primos, dentro de uma tulha, com uma mesa de tábua improvisada. Quando completei 22 anos de idade, fui convocado pela Força Expedicionária Brasileira-FEB para servir no exército”, contou Seu Dionysio.
SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - Chamado de “Pracinha”, Seu Dionysio contou sua experiência como soldado na Segunda Guerra Mundial.
“Vivi muitas experiências diferentes e, ao mesmo tempo intensas. A Guerra estourou em 1939, mas por pressões dos EUA, em 1943, o Brasil se viu “obrigado” a enviar suas tropas e participar. Aos 22 anos fui convocado para servir a Força Expedicionária Brasileira - FEB. Primeiramente me apresentei no Exército, em Bauru. Depois fui para Campo Grande (MS). Fiz treinamento e a cada quinze dias, efetuava todos exames e quem não estivesse em condições plenas de saúde era retirado das tropas. Fui para o Rio de Janeiro, continuei em treinamento e passei novamente por uma “bateria” completa de exames, tomei todas as vacinas e permaneci com a saúde plena. Quando estourou a Guerra, sai do meu país de origem e passei pela África, Espanha e desembarquei na Itália”, ressaltou.
Ele descreve que a batalha conhecida como a “Tomada de Monte Castelo” foi muito bem planejada. “Nós, soldados do Exército Brasileiro, recebemos muitos reforços nos setores e frontes. Diante disso, estávamos abastecidos e os soldados alemães que restaram estavam enfraquecidos”, complementou.
Um episódio que marcou sua vida durante a Guerra foi quando o convocaram para executar um serviço, mas para isso era necessário “guiar um Jeep”.
“Pela sorte de não saber dirigir veículo automotor, foi enviado outro motorista em meu lugar. Este motorista estacionou o veículo rente a um muro próximo a uma das fronteiras, onde os alemães conseguiram avistá-lo e lançaram contra ele “bombas de morteiro” e isso lhe custou à vida”, frisou.
RETORNO AO BRASIL - Em 1945 quando os alemães se renderam e acabou a Guerra, o jovem Dionysio retornou para o Brasil. Ele desembarcou e foi até a cidade de São Paulo com um amigo, que fez durante a guerra, chamado Leal.
“Quando saí de São Paulo eu fiz uma breve parada em Sarutaiá, onde fui recebido pela minha prima, Rita Latanzio, quem pegou minhas malas e me ofereceu almoço em sua casa. O prefeito da época, o Sr. Mário França e o diretor do Grupo Escolar, o Sr. Vitório Bertoni foram me buscar e fui recepcionado no município de Fartura com grande festividade”, salientou.
LIDA CAMPESINA - Ele retornou a trabalhar no campo ou como gosta de se expressar, voltou a “lida campesina”. Casou-se em 1953 com Marina e ao longo dos anos construiu sua linda família.
No ano de 1960, Seu Dionysio passou a trabalhar como servente na Escola Estadual Monsenhor José Trombi e lá ficou por 17 anos.
Mesmo após retornar ao labor rural, ele está há mais de 50 anos residindo na Rua Germano de Oliveira, n°. 299, na Vila Velha em Fartura.
No ano de 1984, aos 65 anos de idade, Dionysio adquiriu seu primeiro veículo automotor, um Ford Corcel, que ainda o pertence.
“Por fim, posso afirmar que enfrentei e pude presenciar muitas batalhas ao longo de minha vida e última está sendo a da Covid-19. Mas, já tomei as duas doses da vacina”, disse contente.
Ele fez questão de contar uma história vivida recentemente durante uma consulta médica.
“Em uma de minhas consultas, um médico me perguntou: Sr. Dionysio, o que é pior: uma guerra ou uma pandemia? Eu lhe respondi: uma pandemia, é claro! Pois, em uma guerra você sabe onde o inimigo está e na pandemia não. Por fim, demos boas risadas”, falou com um sorriso no rosto.
Sobre sua relação de amor com o município de Fartura, o ex-combatente declarou de forma pacata que é voltada, resumidamente, às pessoas que o cercam, pois sempre o trataram com muito respeito, carinho e admiração.
“Parabéns Fartura pelos seus 130 anos! Você faz parte da minha história e eu da sua”, finalizou Seu Dionysio.
- Fartura