Faço esta coluna há alguns anos e pouco falo sobre sintomas. Isto por que não quero que os leitores fiquem com medo. Muitos sintomas Gastrointestinais são comuns e frequentes. Acontecem em todos. Outros são mais importantes e requerem atenção. E há outros que exigem atenção médica imediata, sem nenhuma demora.
Falo sobre alguns sintomas que vi em milhares de pacientes atendidos, tanto no Brasil como no Exterior. Destaco o que acho importante. Mas lembro que cada caso é diferente. Não é por que existe um sintoma que haverá uma certa doença. Tudo é personalizado. É isso é que faz a Clínica tão fascinante.
1. Que sintomas de doenças do esôfago são comuns? E quais são importantes?
Todos os dias vemos pessoas com queimação atrás do peito (que é chamada de pirose ou azia). Geralmente essa queimação é acompanhada de retorno de líquido para a garganta ou boca. Esses sintomas são os sintomas mais típicos da Doença de Refluxo (DRGE). E a DRGE é muito comum, atingindo desde recém-nascidos até pessoas de 100 anos.
Mas a Doença de Refluxo pode ter situações atípicas como faringite ou laringite que não melhoram, rouquidão, e mesmo dor no peito, que parece bastante com a dor das doenças do coração. Pode haver sensação de “bola na garganta”, que chamamos de globus. Há casos com boca amarga (que a população imagina vir do fígado). A Doença do Refluxo pode se associar com a asma. Ás vezes tratamos o refluxo e há melhora da asma.
Outros sintomas importantes:
Devemos ficar atentos quando existe dificuldade para engolir (disfagia), em especial se ela for progressiva( vai aumentando aos poucos) e é acompanhada de perda de peso. A dor para engolir (odinofagia) também merece atenção. Esses 2 sintomas normalmente requerem avaliação médica.
2. E o estômago? Pode levar a que tipo de sintomas?
Os sintomas mais comuns das doenças do estômago são a dor abdominal, que habitualmente é acima ou em torno do umbigo. Essa dor costuma ser em queimação.
Muitas vezes as doenças do estômago fazem o paciente despertar á noite com dor. Na década de 1990 tive a satisfação de receber o Prêmio Manoel de Abreu, dado pelo Congresso da Santa Casa (SP) por demonstrar que esse sintoma geralmente se associa a achados positivos na Endoscopia.
As doenças do estômago podem causar náuseas (enjoo) ou até vômitos.
Muitos pacientes se queixam de plenitude (sensação constante de estômago cheio) com ou sem distensão no abdômen (barriga). Há pessoas que sentem-se satisfeitas logo no início da refeição(saciedade precoce). Eles nos dizem: “doutor, eu comi um pouquinho, mas parece que comi um boi.”
Quando há vômitos com sangue ou evacuação de fezes bem escuras (ou pretas), parecendo um pó de café usado, isso significa sangramento digestivo. Nesse caso a assistência médica deve ser imediata.
3. E o intestino? Quais são os sintomas comuns? E quais precisam de avaliação médica?
Pessoas com intestino preso (obstipação) podem ter dificuldade ou ter que fazer muito esforço ao evacuar, às vezes até requerendo manobras manuais. É comum que as pessoas com intestino preso acumulem gases, o que muitas vezes deixa o abdômen(barriga) com aspecto inchado e distendido. Muitas moças nos falam: “doutor, minha barriga inchou tanto que parece que estou grávida”.
Se a pessoa com intestino preso tiver de fazer esforço sempre para evacuar poderá desenvolver fissuras anais ou hemorroidas. As fissuras são muito dolorosas e trazem dor anal intensa, especialmente ao evacuar. Pode haver sangramento ao evacuar tanto no caso de fissuras quanto no de hemorroidas.
É importante ressaltar que nem todo o sangramento vêm de fissuras, hemorroidas ou outros problemas anais. É prudente a visita ao médico para esclarecer a origem dos sangramentos intestinais.
4. O que se deve fazer quando se apresenta sintomas gastrointestinais?
É preciso bom senso e prudência, tanto pelo paciente quanto pelo Médico. Se o paciente exagera na preocupação acaba indo em muitos médicos sem esclarecer os sintomas. Mas se é relapso, pode deixar que doenças importantes fiquem sem diagnóstico ou tratamento.
Já o Médico precisa ter atenção e experiência para avaliar os sintomas que são apresentados pelo seu paciente. Deve fazer um Raciocínio Clínico adequado e diferenciar o que é importante do que não é, fazendo os exames necessários.
Isso não é fácil, já que requer uma mistura de boa formação médica, experiência e atenção no paciente. Mas é claro que com um pouco de pesquisa pode-se encontrar médicos muito qualificados, que avaliem os sintomas de modo excelente e consigam um tratamento de sucesso.