Na política, constantemente se prega a renovação. Há uma insatisfação permanente com a qualidade dos serviços públicos e, consequentemente, as pessoas tendem a querer mudar as peças de lugar sempre que possível. Evidentemente, não há mal algum em desejar e lutar por uma renovação. Mas o que tem me intrigado é, justamente, a forma pela qual ela é defendida.
Fala-se em “limpeza”. São utilizados termos muito radicais e eu, particularmente, não compartilho desse entendimento.
Numa sociedade que renega a terceira idade e faz de tudo para manter-se fisicamente jovem, lamentavelmente se despreza a necessária experiência de quem tanto viveu, errou, acertou e, acima de tudo, aprendeu. Ignora-se a possibilidade de mesclar juventude e experiência como se o novo representasse, necessariamente, boas e oxigenadas ideias e o idoso fosse o ultrapassado e, na pior das vezes, o velhaco.
A confusão entre a idade cronológica e a noção de ideias arcaicas, ultrapassadas só faz agravar a exclusão do idoso das decisões sociais. E gera a péssima noção de que é fundamental manter-se fisicamente, mesmo que artificialmente, jovem o máximo possível para ter o devido respeito e espaço de atuação igualmente prolongados.
Outrossim, além do profundo desrespeito à terceira idade, pouco se considera o fato de que jovens tem tido ideias e práticas cada vez mais arcaicas e ultrapassadas, principalmente no campo político. Tem se mostrado cada vez mais velhos e velhacos. Portanto, não são, definitivamente os cabelos pretos que simbolizam a necessária renovação do que quer que seja.
Façamos o esforço de repensar nossos valores e ações para prestigiar as contribuições daqueles, cujos cabelos brancos evidenciam a experiência de vida. Igualmente, não desprezemos o vigor e a possibilidade de renovação que os cabelos pretos da juventude podem trazer ao ambiente político. Todavia, em ambos os casos, sejamos conscientes, críticos. O encantamento dos cabelos brancos também pode nos deslumbrar. Experientes podem se transformar facilmente em lobos em pele de cordeiro, sobretudo na política.
O que importa, verdadeiramente, são as ideias, a coerência, as ações. E, para cumprir esses requisitos, nem cabelo é preciso ter... Basta ter caráter.
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