O local que produz a planta utilizada na produção de cervejas foi matéria do programa “Globo Rural”
No começo do mês de junho, uma matéria do programa “Globo Rural” destacou o trabalho e as técnicas utilizadas pela Brava Terra, empresa sediada na fazenda Barra Granda, localizada em Fartura, para a produção de lúpulo, uma planta utilizada na produção de cervejas que durante muito tempo foi tida como incompatível com o clima brasileiro.
O programa da Rede Globo explicou como a iluminação artificial “engana” a planta, fazendo com que ela reaja como se o dia ainda não tivesse acabado. Isso acontece porque, no Brasil, os dias de verão são mais curtos do que em regiões temperadas, como Estados Unidos e Alemanha.
O dono do negócio é o médico Daniel Palma, que revelou que foi inclusive uma matéria sobre lúpulo do Globo Rural uma de suas inspirações para mergulhar na ideia.
Já o agrônomo Felipe Francisco reconheceu que o investimento é alto, mas valeu a pena. “Temos muito menos dor de cabeça, muito mais facilidade de cultivo e uma produção de qualidade melhor”, disse.
Segundo dados da Aprolúpulo, a média nacional de produção para um lúpulo maduro gira em torno de 200g de cones secos por planta. Em países como Alemanha e Estados Unidos, essa média é de 800g por planta. Entretanto, a fazenda de Fartura já consegue atingir 500g por planta e tem se destacado no cenário nacional.
PRODUÇÃO
Segundo o engenheiro agrônomo Gabriel, que é superintendente da empresa, as plantas são colhidas no campo e levadas para o barracão de beneficiamento com as flores presas aos ramos, onde os diaristas manualmente separam as flores dos ramos, operação chamada de pela. “Essas flores então são secas até que cheguem a aproximadamente 10 ou 15% de umidade. Depois disso passam para a peletizadora, outra máquina de beneficiamento, que mói e faz compressão do material em pellets, processo em que se perde mais cerca de 3 a 5% de umidade, chegando ao nosso ideal entre 8 e 10%”, explica.
Ele ainda frisa que esses pellets, são o que possibilitou a boa comercialização do lúpulo. “Porque o cervejeiro brasileiro não está acostumado a fazer cerveja com as flores “in natura”, mas sim moídas e peletizadas, como se fosse uma ração para equinos”, conta.
Ele diz ainda que depois da peletizadora, são embaladas em embalagens apropriadas com atmosfera controlada. “Retiramos o oxigênio e injetamos nitrogênio para aumentar o tempo de prateleira do produto. Todo esse processo é o beneficiamento. O material é então refrigerado até a comercialização”, ressalta.
PECULIARIDADE DA REGIÃO
O engenheiro Gabriel explica que a primeira peculiaridade que temos na nossa região para cultivo de lúpulo é que somos capazes de produzir até três safras no ano, enquanto as regiões de origem produzem no máximo uma, devido à estação de inverno ser fria o suficiente para fazer com que as plantas entrem em dormência. “Como no nosso caso o frio nunca é suficiente para essa dormência, conseguimos emendar uma safra na outra e fazer cinco safaras em dois anos, e nosso objetivo é conseguir ano a ano fazer três safras. Isso também só é possibilitado pela iluminação artificial que instalamos aqui na área”, destaca.
INOVAÇÃO
Como as plantas vem das regiões de origem com altas latitudes com dias longos no verão, elas se adaptaram de modo a florescer quando percebem o encurtamento dos dias pela aproximação do inverno. Então elas florescem quando os dias começam a se encurtar indicando para ela a proximidade do inverno. “Aqui, devido à menor latitudes, nossas plantas, assim que começam a se desenvolver, independentemente da época do ano, já recebem o estímulo do ambiente luminoso de que o inverno supostamente estaria chegando. Então florescem com porte muito pequeno e, uma vez que florescem, o desenvolvimento vegetativo cessa e temos plantas com flores de qualidade, mas em pequenas quantidades. Com iluminação artificial conseguimos “enganar” a planta, para ela “achar” que o comprimento do dia equivale ao período de verão em sua região de origem, ela então prioriza o desenvolvimento vegetativo, até atingir o topo da nossa estrutura de sustentação, à seis metros de altura. Aí, quando atingem um porte que para a gente é adequado, desligamos as luzes e isso desencadeia o florescimento no momento que queremos. Assim, o que no começo parecia ser uma desvantagem, passou a ser entendido como grande vantagem e ferramenta de manejo, inclusive”, salienta.
Segundo ele, a produtividade da fazenda aumentou em 70% com a iluminação, pois o porte das plantas ficou maior.
COMO FUNCIONA A ILUMINAÇÃO
A luz é acionada às 18 horas e fica acesa até 21h30, quando um timer a desliga. Depois é religada às 2h30 e fica acesa até 7h, quando o dia já está claro. Assim, as plantas se desenvolvem como no período de verão dos lugares de origem, como na Europa.
ESTRUTURA DA FAZENDA
A fazenda conta com 0,6 hectares de plantação, mas está sendo preparado um novo campo com 10 hectares, quase 20 vezes mais que o modelo atual.
“Nossa demanda hoje é maior que nossa capacidade de supri-la, por isso vamos aumentar nossos campos. Essa demanda só se tornou possível no momento em que começamos a peletizar nosso produto”, diz.
“O grande diferencial que temos hoje é nossa estrutura de beneficiamento que está sendo concluída. Temos um barracão de 150 m², secador em torre com capacidade para secar 500 quilos de lúpulo por dia, uma peletizadora, duas embaladoras a vácuo com atmosfera controlada. Além disso, outra peletizadora e uma peladora de modelo europeu estão encomendadas para o final do ano. Com certeza um dos nossos diferenciais é esta capacidade de beneficiamento do produto. Inclusive, prestaremos serviços de beneficiamento a terceiros e parceiros da região que queiram produzir lúpulo, mas não tenham condições de investir nestes equipamentos”, conta Gabriel dizendo que os maiores clientes estão em São Paulo capital, Sorocaba, mas que também fazem entrega no interior e outros estados.
MÃO DE OBRA
O responsável pelo cultivo do lúpulo na fazenda, Zé Mario, disse que no começo precisava-se de entre 12 a 15 pessoas por dia para fazer a colheita. Mas, que agora com a máquina secadora que tem capacidade para 500 quilos, se contrata de 20 a 40 pessoas diariamente, dependendo da demanda de lúpulo para ser colhida no campo.
Ele explica que o período de plantio das mudas até ser colhida a flor, dura em torno de quatro a cinco meses. “São mudas que nem café, planta perene, e que tem vida útil de 15 a 16 anos, depois enfraquece e temos de substituí-las”, diz.
Zé Mário diz que no começo eles tinham dificuldades para colher, era uma loucura e acabava-se perdendo qualidade. “Temos um período de 0 a 15 dias para colher as flores depois que atingem o patamar desejado. E se não colhermos em tempo hábil, as flores perdem qualidade. Depois que aprendemos isso, conseguimos produzir mais e melhor”, explica.
VANTAGEM DO CLIMA
“Nosso frio não é suficiente para adormecer as plantas, como acontece na Europa e nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, então conseguimos produzir duas, até três vezes no ano. Enquanto nesses lugares mais frio se produzem apenas uma vez”, conta Zé Mário.