Seja na cidade pequena ou nas capitais movimentadas, toda mulher conhece a sensação de estar sendo observada. É como se houvesse um tribunal invisível julgando cada detalhe: a roupa que ela veste — “muito curta” ou “muito fechada” —, o local onde ela frequenta e o horário em que está na rua, a escolha de ter ou não filhos, o fato de trabalhar demais ou “não trabalhar o suficiente”, casar cedo demais ou nunca se casar.
Esse julgamento social, que muitas vezes vem disfarçado de “conselho” ou “opinião para o seu bem”, é um dos fatores que mais adoecem emocionalmente as mulheres. Ele cria uma pressão silenciosa e constante para se encaixar em padrões impossíveis. É como se existisse uma régua que mede cada passo — e que, não importa o que ela faça, nunca é o suficiente.
O resultado? Ansiedade, culpa, vergonha e a sensação de nunca ser boa o bastante. Isso mina a autoestima, afasta mulheres de seus projetos de vida e, em alguns casos, leva ao isolamento. É um tipo de violência simbólica, invisível, mas que deixa marcas profundas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres são duas vezes mais propensas que os homens a desenvolver depressão e ansiedade, e um dos fatores de risco é justamente a sobrecarga social e emocional. A cobrança em alcançar um padrão estético praticamente impossível e ainda dar conta de administrar trabalho, casa, filhos e em algumas situações também os estudos. As consequências são cruéis, mulheres se sentem constantemente pressionadas a caber em um molde que não respeita a diversidade e nem a individualidade.
A pressão social para que mulheres sejam perfeitas — mãe exemplar, esposa dedicada, profissional incansável e sempre bonita — é um dos motores desse sofrimento.
O julgamento social é uma forma de violência simbólica e precisa ser tratado como questão de saúde pública. Não basta dizermos às mulheres para “serem fortes” ou “não ligarem para a opinião dos outros”. Precisamos educar nossas crianças para o respeito, para a mudança cultural que só ocorre por meio da educação, criar campanhas de conscientização que questionem estereótipos e cobrar das instituições políticas de enfrentamento ao machismo estrutural.
A mudança começa com responsabilidade coletiva. Precisamos agir agora para construir um ambiente onde as mulheres possam viver sem medo de julgamentos — e onde a liberdade de ser quem se é não seja um ato de coragem, mas um direito garantido.
Dra. Débora Garcia Duarte Advogada. Mestre em Direito (UENP - Jacarezinho). Professora universitária e coordenadora da FIT. Autora da obra Reveng Porn: a perpetuação da violência contra a mulher na internet e o poder punitivo. Pesquisadora na área de direitos das mulheres e doutoranda pela FCA - UNESP Botucatu.