Líder tupi-guarani Antonísio Lulu faleceu aos 57 anos na aldeia Tekoa Porâm, em Itaporanga (SP), na última quarta-feira (18).
O novo líder tupi-guarani da aldeia Tekoa Porâ lamentou a morte de Antonísio Lulu, conhecido como Cacique Darã, em Itaporanga (SP).
Darã era o líder tupi-guarani da aldeia e morreu aos 57 anos, na última quarta-feira (18), mas deixou sua história por conta da dedicação da demarcação das terras indígenas.
Ao g1, o vice cacique Angerri Da Silva, de 33 anos, que agora assume a liderança da aldeia, lamentou a morte de Darã e comentou sobre a importância de dar continuidade ao trabalho iniciado por ele.
"Ele será inigualável e vai ser difícil ter um líder como ele. Representou muita gente na questão da demarcação de terra. Não foi só a aldeia Tekoa Porâ que perdeu um líder e um amigo, foi toda a comunidade indígena. Ele não lutava só pelo povo daqui, mas por todos os povos indígenas", afirma.
Segundo a Polícia Civil, Darã foi encontrado morto em seu carro pela esposa. O caso está sendo investigado e foi registrado como morte suspeita. Angerri conta que foi um dos primeiros a estar no local do incidente. “Foi muito triste. Para mim, foi muito impactante a perda dele”, lamenta.
Escolhido para ser cacique
Angerri é vice-cacique desde 2006. Ele conta que foi o próprio Darã que o convidou para participar das lideranças da tribo, após a saída do seu irmão para uma aldeia em São Miguel Arcanjo (SP).
“Darã me falou para ser o vice cacique, porque eu era jovem e iria aprender bastante. Como o irmão tomou conta de uma aldeia na região de São Miguel Arcanjo, eu assumi sendo vice”, conta.
O novo cacique conta que para se tornar líder também é preciso ter uma aprovação da comunidade da tribo. Angerri já estava acostumado com o posto de liderança, pois Darã representava a comunidade indígena em muitos movimento em prol da causa indígena, quase sempre em Brasília.
“Eu falo que dar continuidade é mais difícil do que começar alguma coisa. Se você começar e não conseguir, é uma responsabilidade sua. Com a continuidade, temos a obrigação de fazer melhor do que ele [Darã] fez, mas aprendi bastante com ele nos poucos movimentos que fui", diz.
O novo cacique conta que não acompanhava muito Darã nas viagens que fazia a Brasília, mas lembra de um protesto em especial. Em 2021, 6 mil indígenas, de 170 povos, acamparam na Esplanada dos Ministérios, em Brasília (DF) contra medidas que dificultam a demarcação de terras e incentivam atividades de garimpo.
“Quando ele foi para Brasília, acabei ficando de cacique na aldeia. Nunca deixei de conversar com ele, procurar uma orientação. Ele foi um amigo, irmão, líder e guerreiro que passou na terra. Hoje está descansando”, comenta.
Darã era um dos líderes do movimento Acampamento Terra Livre (ATL), a maior Assembleia dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil, que acontece desde 2004, todo mês abril e em Brasília, mas que já aconteceu em outros lugares em caráter extraordinário.
Em 2006, Darã seguiu uma jornada em busca de seu território ancestral, e foi assim que surgiu o processo de retomada na região de Itaporanga, no interior de São Paulo. O cacique fundou Aldeia Tekoa Porã (Solo Sagrado em Tupi) na região.
Segundo Angerri, a aldeia é formada por indígenas de origem tupi-guarani e conta com 13 famílias, somando cerca de 50 indígenas. Com tanta responsabilidade, o novo líder fala em querer manter o legado da sua cultura.
“Desde 1500, o indígena tem a preocupação de manter a sua cultura e tradição. Quando teve a colonização tivemos que lutar para manter a cultura. E hoje, a gente passa para as crianças de não ter vergonha de falar que é indígena, de colocar os seus colares e mostrar realmente a sua cultura”, enfatiza.
Angerri afirma que os ensinamentos de Darã vão passar para gerações futuras e diz que pretende continuar lutando pelas questões dos povos originários.
“Darã dizia que enquanto existir um guerreiro, uma guerreira que acredita na causa indígena, a gente não está sozinho e é isso que vamos transmitir para as próximas gerações”, comenta.
Quem foi cacique Darã
O cacique Darã era de origem tupi-guarani e nasceu na aldeia Nimuendaju, na Terra Indígena (TI) Araribá, em Avaí (SP).
Ele era conhecido como uma das lideranças tupi-guarani do estado de São Paulo. Desde muito jovem, o líder participou de lutas e mobilizações em defesa dos direitos dos povos originários do Brasil.
Darã também atuou na luta por direitos territoriais e na área de saúde, tendo participado das mobilizações e debates que resultaram na criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
Também foi um dos fundadores da Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (Arpin-Sudeste), organização de base da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
O cacique contribuiu com a reconquista de territórios Guarani na região sudoeste do estado de São Paulo, de onde os Guarani foram expulsos no início do século XX.
Nos anos de 2005 e 2006, participou ativamente da luta pela retomada das TIs Tekoha Pyahu e Barão de Antonina, no município de mesmo nome, e da TI Tekoá Porã, no município de Itaporanga (SP), da qual tornou-se liderança.
Em 2021, Darã teve papel fundamental na jornada de lutas que resultou no Levante pela Terra, grande mobilização que reuniu indígenas de todo o país na capital federal.
Por g1 Itapetininga e Região