Estudante de Cerqueira César (SP) descobriu que perdeu a vaga após seu primeiro dia de aula, na segunda-feira (26). Banca de heteroidentificação não o considerou pardo.
Um jovem estudante de 18 anos, morador de Cerqueira César, no interior de São Paulo, perdeu sua vaga no curso de medicina da Universidade de São Paulo (USP) após uma banca julgadora não o considerar pardo.
Alison dos Santos Rodrigues foi aprovado na primeira chamada pelo Provão Paulista no curso mais concorrido da USP. Ele descobriu que perdeu a vaga na segunda-feira (26), no seu primeiro dia de aula, após decisão da banca de heteroidentificação.
Ao g1, Alison explica que sempre se autodeclarou pessoa parda. “Tive o desprazer de saber da notícia que eu não fui aprovado, mesmo me identificando formalmente como pardo. E tudo aquilo que aconteceu me deixou sem chão, parece que o mundo acabou porque foi algo muito difícil de conquistar.”
Para não perder a oportunidade de estudar a profissão dos sonhos, ele e a família entraram com recursos para conseguir a rematrícula.
“A gente (família) entrou na Justiça e vamos conseguir, pela Defensoria Pública. E eu vou estar lá, como pardo, porque é isso que eu sou.”
Segundo a advogada do jovem, Giulliane Jovitta Basseto Fittipald, nomeada pelo convênio mantido entre a Defensoria Pública do Estado de São Paulo com a Seccional de Cerqueira César da OAB/SP, um processo de tutela antecipada antecedente foi iniciado.
A medida é uma alternativa processual que permite às partes buscarem medidas provisórias de forma rápida para obter uma resposta a questões urgentes.
"Optei por essa medida por ser uma modalidade processual que oferece uma via mais ágil e eficiente para o interessado, garantindo a proteção de direitos e minimizando os prejuízos decorrentes de demora na resolução. Creio que os documentos que juntamos no feito demonstram bem os requisitos e, por isso, estamos esperançosos no deferimento da medida", disse Giulliane.
O que diz a faculdade?
A instituição declarou que a análise das fotografias é feita através de duas bancas de cinco pessoas e é baseada somente em fatores fenotípicos: a cor da pele morena ou retinta, o nariz de base achatada e larga, os cabelos ondulados, encaracolados ou crespos e se os lábios são grossos.
Caso a foto do candidato não for aprovada na primeira avaliação, ela é direcionada automaticamente para a outra banca.
"Nenhuma banca sabe se a foto está sendo analisada pela primeira ou segunda vez, o que garante uma dupla análise cega das fotografias. Ao final do processo, se duas bancas não aprovarem a foto por maioria simples, o candidato é automaticamente chamado para uma oitiva presencial (...) Em relação ao caso específico do estudante Alison dos Santos Rodrigues, a deliberação final se deu na última sexta-feira, dia 23 de fevereiro, e foi enviada no dia subsequente. Importante frisar que todos os candidatos que estavam com recursos sendo analisados sabiam que a matrícula estava condicionada ao resultado das bancas de heteroidentificação. O que o estudante tinha era uma pré-matrícula condicionada ao resultado do processo de heteroidentificação".
Por g1 Itapetininga e Região