Primeira mulher negra a vencer o prêmio “Açorianos de Literatura”, ela veio através do programa Viagem Literária
A renomada escritora gaúcha Eliane Marques ministrou na terça-feira, 24 de novembro, uma oficina e bate-papo sobre poemas em Fartura, na biblioteca municipal “Professor Roberto Moreira”,
Essa foi uma excelente oportunidade para escritores, leitores e outras pessoas conhecerem um pouco do trabalho dela que foi a primeira mulher negra a vencer o Prêmio Açorianos de Literatura, em 2016. Além de farturenses, participaram pessoas de Piraju, Taguaí e Sarutaiá.
A sua presença se deu através do programa do governo estadual, Viagem Literária, que visa estimular à leitura, promovendo contação de histórias e encontros com escritores infantojuvenis e adultos.
Durante o bate-papo, Eliane apresentou o seu projeto Orisun Oro (do iorubá: “fonte da palavra”), que procura tornar mais conhecidos os poemas de mulheres negras da África e das Américas, e praticou a leitura e a escrita com os participantes do evento.
“Cumprimento todos os habitantes de Fartura, é uma cidade maravilhosa e que me acolheu muito bem. Estou muito feliz com a biblioteca, é linda e espaçosa”, ressaltou.
Para ela o encontro foi bastante produtivo, sendo mais de 10 poemas lindos e os participantes também exercitaram a criação de suas próprias poesias.
Eliane também elogiou, além do espaço físico da Biblioteca Municipal, o trabalho dos servidores e servidoras e a organização do evento. “Realmente me surpreendi”, afirmou. “Cheguei aqui e tinha dois microfones, tudo organizado para eu usar. Que a biblioteca continue assim e até melhore; adquirindo inclusive livros da literatura africana, que foi o objeto da oficina hoje”, completou.
Questionada a respeito de como a literatura pode nos ajudar a passar por momentos como o que estamos atravessando atualmente – com a pandemia e o agravamento de conflitos sociais, raciais e da desigualdade – a poetisa procurou não definir a poesia como a resposta para a superação das dificuldades, mas lembrou que escrever ou interpretar um poema pode nos levar a outros lugares.
“O poema como criação é importante porque nos tira de lugares ordinários e nos tira da ‘mesmisse’ da vida. O poema é importante inclusive para que a sociedade parta de um lugar para outro. A poesia provoca um furo, e esse furo; esse buraco, por ele ser vazio – estou utilizando conceitos da psicanálise –, ele permite uma criação. Porque lugares cheios não permitem nada. E é esse o lugar da poesia, de possibilitar a criação e até um novo tipo de organização social”, definiu.
Mulher negra e, assim como a esmagadora maioria das mulheres negras do Brasil, de origem humilde, Eliane viu nos estudos a possibilidade de mudar os rumos de sua vida. Para outras garotas e garotos pretos que cresceram aqui na região, ela deixa uma mensagem de incentivo e outra de esperança: há sempre uma brecha.
“Eu, como uma mulher preta, que conseguiu escrever, que conseguiu publicar, a mensagem que eu digo é: escrevam. E tentem publicar e socializar a mensagem de vocês; por meio do poema, por meio do romance. Não deixem que esse lugar de opressão seja toda a vida de vocês. Sempre há uma brecha nesse lugar de opressão. E essa brecha poderá conduzir a outros lugares”, continuou.
A estudante de Pedagogia, Laís Prado, moradora de Taguaí descreveu a oficina como bastante produtiva. “Foi muito interessante, uma escritora, uma poetisa que tem força em suas palavras, firmeza em suas ideias. Não a conhecia, mas depois desse encontro, de ouvir a história, sua jornada, me tornei admiradora. Parabéns para os organizadores dessa Viagem Literária por estarem apresentando o trabalho desses artistas de outra região do nosso país, para nossa região”, destacou.
MAIS SOBRE ELIANE MARQUES
Gaúcha da cidade de Sant’Ana do Livramento, Eliane Marques é poetisa, ensaísta, coordenadora da Escola de Poesia e editora da revista Ovo da Ema. Publicou os livros “Relicário” e “E se alguém o pano” e foi a primeira mulher negra a ganhar o Prêmio Açorianos de Literatura, em 2016. Advogada e formada em psicanálise, lançou com outras autoras “Arado de Palavras” e “Blasfêmias: mulheres de palavras”. Traduziu “O Trágico em Psicanálise”. Atualmente, trabalha na tradução do livro “Pregón de Marimorena”, da uruguaia Virginia B. de Salas, e finaliza o seu poemário “O poça das Marianas”.
Como já mencionado, ela criou este ano o projeto Orisun Oro, que tem como objetivo traduzir para o português brasileiro e divulgar poemas de escritoras negras africanas e latino-americanas. Conheça mais a respeito de sua trajetória profissional acessando essa entrevista à Fatto Comunicação e seu perfil no Literafro – portal de literatura afrobrasileira hospedado no site da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Eliane também foi a 117ª entrevistada do projeto “Todo Dia Delas”, que celebrou 365 mulheres no HuffPost Brasil em 2018.
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