Vivemos uma época em que a ação humana deixou marcas profundas no planeta. Chamamos de Antropoceno esse tempo em que a vida, os climas e até as paisagens carregam a assinatura de nossas escolhas. No entanto, em meio à crise ambiental e social que nós mesmos ajudamos a criar, uma nova força entrou em cena: a inteligência artificial.
Costumamos enxergá-la como mera ferramenta, mas talvez ela seja mais do que isso. A IA já influencia o modo como produzimos alimentos, nos comunicamos, trabalhamos e até como cuidamos da saúde. Seu alcance é tão grande que começa a remodelar a própria condição humana.
No campo ambiental, por exemplo, a IA tem duas faces. Pode ajudar a monitorar florestas, prever desastres e tornar mais eficiente o uso de energia. Mas também consome quantidades imensas de eletricidade, exige data centers que gastam água e energia, e depende de uma mineração que deixa cicatrizes no solo. Ou seja, a mesma tecnologia capaz de ajudar no combate à crise climática pode, se mal conduzida, agravá-la.
Na vida cotidiana, o impacto é igualmente ambíguo. De um lado, os algoritmos aproximam pessoas, oferecem diagnósticos precoces e ampliam o acesso à informação. De outro, podem aumentar a ansiedade, aprofundar desigualdades e aprisionar indivíduos em bolhas digitais. O mesmo código que organiza o trânsito de uma cidade também define quais notícias chegam até nós — e com que viés.
O desafio, portanto, não é decidir se usaremos ou não a inteligência artificial, mas como a usaremos. O Antropoceno já nos mostrou que não existe neutralidade nas nossas criações: elas sempre carregam consequências. Se a IA vai ampliar a crise ambiental e social ou se tornará aliada na construção de um futuro mais justo dependerá de escolhas éticas e políticas feitas agora.
Talvez a pergunta central seja menos sobre máquinas e mais sobre nós mesmos. A inteligência artificial não é um destino inevitável: é um espelho das prioridades humanas. Ao escolher entre eficiência e sustentabilidade, entre lucro imediato e bem-estar coletivo, estamos decidindo também que tipo de futuro queremos deixar marcado na história da Terra.
Maurício de Oliveira - Aluno do 2º termo de Engenharia Agronômica da Faculdade FIT.
Giliardi Marinho de Almeida - Professor Me. dos cursos de Engenharia Agronômica e Enfermagem da Faculdade FIT
- Taguaí