Agora completamos nove meses de quarentena e com isso é importante fazermos um balanço sobre suas consequências. A covid não trouxe prejuízo apenas físico e financeiro, mas também, um grande mal oculto por esta pandemia, a fragilidade e o aumento de problemas relacionados a saúde mental de todos nós.
Com as primeiras notícias sobre o coronavírus, percebeu-se o aumento de procura de atendimento psicológico, ou orientação online, pois aumentou o número de pessoas com crise de ansiedade e síndrome do pânico.
E a neuropsicóloga Daniela Viana (CRP 06/57345), em entrevista para o jornal Sudoeste do Estado, explica sobre esta realidade. E como o sentimento de impotência e preocupação com o futuro e o sustento da família, resultou no agravamento de quadros de problemas mentais que já eram conhecidos, ou que existiam, mas ainda não estavam a flor da pele.
“Depois de algumas semanas da explosão da pandemia, as pessoas passaram a sentir a sensação de incertezas associada a angústia, e isso complicou ainda mais nossa saúde mental. Aquela rotina que conhecíamos e que nos dava segurança, passou a não existir e como toda a mudança, gerou conflitos e medos. Tivemos que nos adaptar a força, à uma nova realidade e a partir daí outras consequências começaram a aparecer”, destaca Daniela.
Ela destaca que a convivência familiar foi intensificada. “Ou seja, muitas horas do dia todos juntos em casa, no início era perfeito, mas com o tempo, mais o estresse de ficar confinado e as preocupações financeiras, foram deixando as pessoas mais irritadas, ocasionando no aumento de mais de quarenta por cento da violência doméstica, no abuso do uso de álcool e outras drogas e de pensamentos suicidas”, ressalta.
Ela diz que não bastasse isso, muitos tiveram que trabalhar em casa, e com isso, muitas mulheres passaram a ter um aumento de trabalho, pois além das tarefas de casa, que na maioria dos casos já era de responsabilidade feminina, a mulher teve que dar atenção aos filhos, ao trabalho, agora home office, ao marido, e ela mesma se perdeu nisso tudo. “Portanto meninos, é fundamental que ocorra uma mudança desta visão machista e arcaica de que a mulher é responsável e que o homem tem que ajudar. Não!!! A responsabilidade da organização da casa e da criação dos filhos é igualmente do homem e da mulher, nenhum faz favor ao outro e sim coopera e assume proporcionalmente as tarefas e responsabilidades. Neste momento, mais do que nunca, é importante fortalecer as relações para que se ajudem mutualmente”, explica.
Ela ainda diz que outro problema é que ao trabalhar em casa, muitos limites foram ultrapassados, como reunião online, fora de horário de expediente, etc. E enfatiza que é importante, que quem vivencie esta situação, coloque limites e horários, como tinha antes.
“Atualmente, passamos pelo relaxamento associado à esperança trazida pela flexibilização social e pelo possível desenvolvimento de uma vacina. Aos poucos, o medo provocado pelas situações forçadas de aglomeração, é substituído pelo processo de negação, fazendo com que as pessoas deixem de se cuidar. Grande perigo”, salienta
A doutora diz que por fim, teremos que aprender a lidar com os traumas de perdas de entes queridos que não pudemos sepultar da maneira que traz maior conforto para nossos corações, de perdas financeiras, perdas de convivências. E que ainda viveremos um processo longo de adaptação à nova realidade.
“Diante disso, é importante olhar os pontos positivos, que são a retomada da importância da família, o fortalecimento da capacidade de resiliência de cada um, a reflexão sobre a maneira que cuidamos uns dos outros e do nosso planeta Terra, reavaliamos o que de fato é importante em nossas vidas. Acredito que 2020 foi um ano de mudança para todos nós, agora cabe a cada um usar o que passamos para transformar as nossas ações em comportamentos que auxilie na recuperação emocional, ética e humana de todos nós, sendo mais empáticos e amando o próximo como a si mesmo, assim está escrito há mais de 2020 anos”, acredita Daniela que conclui: “Que venha 2021 e que todos nós sejamos sábios e amorosos. Feliz Natal e um abençoado 2021”.
- Fartura
- Saúde