Chegamos a (incríveis) 1.8 milhões de leitores no site doctoralia.com.br.
Dentre as quase 1000 perguntas que respondi, há algumas que me chamam bastante a atenção. Uma delas está aqui.
Doutor, posso tomar chá de espinheira santa para tratar o bichinho que causa gastrite?
O senhor fala sobre:
- H. pylori, a bacteria que causa úlceras, gastrites e está associada ao câncer de estômago
- uso de chás, ervas e outros tratamentos famosos mas não reconhecidos
Vou INFORMAR de modo genérico sobre esses 2 assuntos. Isso para que o senhor e os mais de 1,8 milhao de pessoas que me leem aqui saibam mais. Baseio tudo que escrevo em 35 anos de prática clínica, aqui e no Exterior. Também uso dados da ORGANIZAÇAO MUNDIAL DE SAÚDE.
Tenho certeza que todos que me leem conhecem pelo menos uma pessoa com H. pylori ou que já tentaram usar chás ou ervas para tratar algo.
Quem ler poderá aprender sobre isso e esclarecer aos que precisam.
USO DE CHÁS e ERVAS NAS DOENÇAS DIGESTIVAS
Desde que eu era Residente lá no Hospital das Clinicas(SP) haviam modas sobre alimentos que podem melhorar as doenças digestivas.
Há 2 ou 3 anos respondi a uma entrevista no Jornal da TVTem (Globo do interior) sobre esses mitos. Se quiser ver a entrevista:
https://globoplay.globo.com/v/6313754/
Geralmente não respondo de modo específico a perguntas. Nesse caso, falarei sobre os tratamentos ainda não comprovados em Gastroenterologia, como a espinheira santa para problemas do estômago.
É muito atraente pensar que um chá ou um alimento que temos em casa vai tratar o problema do estomago. Parece fácil, barato e sem efeito colateral. Nossa cabeça imagina: "não vai fazer mal" ou "vai ajudar"
Mas na realidade pode ser muito ruim desistir de um tratamento comprovado para usar algo sem apoio científico.
Explico melhor: os remédios para H. pylori foram comprovados em milhões de pessoas. Foram feitos muitos testes antes que fossem recomendados para uso geral. Sabe-se que quando usados corretamente terão grande chance de eliminar o malvado bichinho.
Já com os chás e ervas não foram feitos testes adequados para comprovar se de fato eliminam o H. pylori.
E pior: ao serem usados podem dar uma falsa sensação de melhora, mas o bichinho ainda estará lá. Ou podem até fazer mal.
Complicado ? é complexo mesmo.
Mas, minha opinião (de modo geral) é que devemos nos ater ao que está comprovado. Se um dia se descobrir que uma erva, chá ou alimento eliminam o H. pylori, melhor. Mas no momento não conhecemos esse chá.
Sobre o H. pylori:
- o que é?
- o que causa?
- como se faz o diagnóstico?
- como se trata?
Claro que tudo que falo é genérico.
- O H. pylori é o maior causador de úlceras e gastrites, e é causa comum de duodenites. Tem papel importante no câncer de estômago, embora este seja multifatorial.
- O H. pylori atinge metade da população do mundo(!!). São bilhões de pessoas afetadas. Isso mesmo: bilhões(!!).
- Por incrível que possa parecer, a maioria dos pacientes com H. pylori não tem sintomas. É verdade: a maioria dos pacientes nada sente.
-No caso de úlceras e gastrites pode haver dor abdominal (sintoma mais comum). Geralmente a dor é acima ou em torno do umbigo.
-Há pacientes com náuseas(enjôo) e até vômitos.
- Muitos tem plenitude (sensação de estômago cheio).
- Alguns pacientes tem saciedade precoce
(sentir-se satisfeito logo no início da refeição). Eles nos falam: "Doutor, comi só um pouquinho, mas parece que comi um boi."
- Mas só com esses sintomas não é possível diagnosticar se há o H. pylori.
Ter esses sintomas NÃO faz diagnóstico de H. pylori. É importante saber isso
DIAGNÓSTICO:
- O diagnóstico, no Brasil, é feito durante a Endoscopia. A Endoscopia também permite um excelente diagnóstico da situação do esôfago, estômago e duodeno.
- Há sutilezas para a descoberta do H. pylori pela Endoscopia. Por exemplo, se o paciente estiver em uso de IBPs (como omeprazol, lansoprazol, pantoprazol) o exame poderá ser FALSO-NEGATIVO. Em outras palavras, o H. pylori está lá, mas o exame não detectou.
- Na minha prática solicito aos pacientes que parem de tomar os IBPs por um tempo antes da Endoscopia. Mas tenho a sorte de ser um Médico que acompanha os pacientes por longo prazo, e conhece bem seus pacientes.
Se preciso, substituo os IBPs até o exame.
IMPORTANTE:
- Estudos recentes comprovam que pessoas que tem parentes próximos com câncer de estômago
farão prevenção de câncer se eliminarem o H. pylori. Isso é importante. É uma prevenção fácil e relativamente barata.
Mas lembro que o câncer de estômago é multifatorial e que só uma parcela mínima, ínfima, das pessoas com H. pylori desenvolvem
esse câncer.
CONCLUINDO:
Assim, mesmo o diagnóstico do H. pylori (algo que parece fácil) tem suas sutilezas que devem ser respeitadas. O tratamento é eficaz.
Minha experiência:
comecei a praticar ANTES da descoberta do H. pylori. Não se sabia a causa das úlceras e gastrites e muito menos que a bacteria estava envolvida no câncer.
Dessa forma, tive a sorte de acompanhar essa página fundamental da Medicina, Foi algo fascinante.
Desde a descoberta da bactéria, há mais de 30 anos, passei a trata-la. Houve raras vezes em que tive que usar os tratamentos para casos resistentes. E nunca tive pacientes com efeitos colaterais severos.
Quando há úlcera é importante verificar se houve a erradicação após o tratamento. E é importante manter o paciente sem H. pylori nos casos de metaplasia no estômago (metaplasia NAO é neoplasia, são conceitos diferentes e eu já escrevi bastante sobre isso no doctoralia.com.br).
Embora na maioria dos casos de gastrite não exista recomendação formal para exames de controle após o tratamento, costumo seguir o desejo de meus pacientes. E faço isso em S. Paulo ou na Atividade Humanitária no Sertão.
Vejo (e trato) os pacientes dos 2 locais exatamente da mesma forma.
Não há diferença em NADA no Atendimento S. Paulo ou no Sertão.
Isso exatamente porque meu atendimento não se baseia em fatores financeiros.
Se alguém é meu paciente o que tenho a fazer é dar o meu melhor.
Consultoria - Prof. Dr. Paulo S Lopes- CRM 56402 Médico Gastroenterologista e endoscopista. Tem 35 anos de experiência. Recebeu Bolsa de Estudos do Governo do Japão para Doutorado na Tokyo Medical University. Fez Pós Graduação nas Universidades de Harvard e Johns Hopkins - Estados Unidos, Foi ligado também á ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, Nova Iorque. Foi Visiting Scholar em Yale. Tem Títulos de Especialista. O Dr. Paulo recebeu 5 Premios no Brasil. Atualmente, além de sua prática médica, dedica-se a Atividades Filantrópicas nos Estados de S. Paulo e Paraná, e a Atividades Humanitárias no Sertão.
Muito importante: Estas notas , mesmo acuradas, jamais substituirão a avaliação médica. Nossa recomendação para pessoas com os problemas descritos é serem avaliadas por profissionais de sua confiança.Temos apenas o desejo de oferecer orientação, embora genérica. Ao escrever, colocamos situações hipotéticas, embora comuns. Imaginamos a presença de profissionais e recursos de alto nível. Porém não conhecemos, em geral, a realidade das localidades dos nossos leitores. . Quando nos referimos á médico, no masculino, referimo-nos igualmente ás médicas mulheres, só omitidas ali por questão de espaço. Não recomendamos diagnósticos ou tratamentos, e muito menos profissionais por esta coluna. A informação, mesmo cientificamente acurada, é genérica e não se aplica a casos individuais. Não queremos substituir a avaliação médica atenta, individualizada e específica.