Há pouco tempo fiz minha primeira Palestra online, a convite do Rotary. Agora tive a honra de ser convidado para mais uma Palestra online, sobre Prevenção de Câncer Digestivo. Fiquei muito feliz, e um dos temas que quero abordar é o H. pylori
A bactéria Helicobacter pylori, também chamada H. pylori é a maior causa de úlceras, gastrites crônicas e está relacionada ao câncer de estômago. Além disso, metade da população do mundo tem o H. pylori. Nesta triste época de Pandemia, há um micróbio que atinge muito mais pessoas que o Coronavírus. Mas felizmente o H. pylori tem tratamento relativamente fácil.
Falo também sobre a relação do H. pylori com o tipo mais comum de câncer de estômago, bem como sobre seu papel na prevenção do mesmo.
1.O que é o H. pylori?
O Helicobacter é uma bactéria. Ele é transmissível. Hoje aproximadamente metade da população mundial (4 bilhões de pessoas) está infectada.
A descoberta do H. pylori revolucionou a Medicina. Por exemplo, as úlceras do estômago e duodeno passaram a ser tratadas com muito sucesso. Isso beneficiou milhões de pessoas.
2.Como adquirimos o H. pylori?
Os alimentos ou água contaminados com H.pylori causam transmissão da doença. Não se sabe em detalhes como se adquire. Sabe-se que uma vez contaminados, sempre teremos o H. pylori no organismo.
3.Que doenças o H. pylori pode causar? Quais são os sintomas? E a prevenção?
Um dado que poucos sabem é que a maioria das pessoas contaminadas permanecem sem sintomas.
O H. pylori é a maior causa conhecida das úlceras gástricas e duodenais.
As úlceras muitas vezes apresentam dor abdominal, geralmente epigástrica (mais ou menos na região acima do umbigo). Pode haver náuseas (enjoo) ou mesmo vômitos. A sensação de má digestão também pode acontecer, com empachamento (peso no estômago) e saciedade precoce. As gastrites também podem levar a sintomas parecidos. Mas tudo é individual.
Então, é bem difícil saber o diagnóstico exato só pelos sintomas.
Para o diagnóstico, além da consulta atenta, o Médico muitas vezes necessita da Endoscopia Digestiva Alta. No exame, além de saber o que acontece no esôfago, estômago e duodeno, obtém-se material para verificar o H. pylori. Há outros métodos pouco usados no Brasil, como o teste respiratório.
O H. pylori também causa gastrites crônicas, muito embora a literatura de países anglo-saxões não adote mais esse termo. A maior parte das gastrites ocorre pela infecção com H. pylori.
O H. pylori também está relacionado ao desenvolvimento do câncer gástrico, incluindo um tipo especial que é o Linfoma MALT. Mas sabemos que o câncer gástrico, em geral, é multifatorial.
Pouco se sabe sobre a prevenção da transmissão do H. pylori. O respeitado Center of Disease Control, na sua edição 2018 do Yellowbook , não recomenda nenhum método específico de prevenção. Entendo, contudo, que a boa higiene nos alimentos e água sempre traz benefícios, mesmo que inespecíficos. Lavar as mãos antes do preparo dos alimentos e antes de consumi-los é sempre uma ótima ideia.
Frequentemente a imprensa associa a bactéria H.pylori com infarto do miocárdio e muitas outras doenças. Isso permanece sob intensa investigação nos grandes Centros Mundiais, mas até hoje nada foi comprovado.
Assim, não há qualquer comprovação até agora que o H.pylori cause outras doenças.
4.Qual o tratamento para o H. pylori ?
Usa-se antibióticos. O tratamento costuma ser efetivo. Na prática clínica há poucos efeitos colaterais sérios. Nos casos em que não se elimina a bactéria usa-se esquemas de segunda linha que são eficazes. Pesquisas recentes da Escola americana recomendam esquema triplo ou quádruplo na segunda linha, muitas vezes incluindo uma medicação chamada bismuto, pouco usada no Brasil.
É claro que o bom Médico ficará atento para dados importantes, e personalizados, como por exemplo, se houve tratamentos anteriores, se há alergias a antibióticos, etc. Não adianta estar muito atualizado se não houver interesse e atenção ao paciente.
Como sempre, sigo o que o grande professor Osler falava: “O bom médico trata a doença, o grande médico trata o doente.”
6. Qual o papel do H. pylori na prevenção de câncer de estômago?
Recebo essa pergunta quase todos os dias. O câncer de estômago ocorre por muitos fatores e o H. pylori é um deles. Sabe-se que parentes próximos de doentes de câncer de estômago serão beneficiados ao ter tratamento do H. pylori.
Sempre, nas atividades filantrópicas ou Palestras no Interior, perguntam-me se é fácil conseguir um bom Médico(a) que cuide bem das doenças digestivas. É uma questão complexa. Entendo que para um bom Médico é preciso capacidade técnica, boa comunicação com pacientes e familiares e especialmente integridade.
Não descrevo cada qualidade individualmente. Mas afirmo que sem integridade, as outras qualidades serão inúteis. A integridade se mostra na atenção ao paciente, na cordialidade com os familiares, no esforço do Médico em estudar sempre e utilizar seus conhecimentos em benefício dos pacientes. O bom Médico também mostra integridade ao priorizar a saúde do paciente, sem colocar honorários acima da saúde de seus pacientes. Para o bom Médico, o paciente merece todos os seus esforços. Não importa se é rico ou pobre. Não importa se é um paciente particular, de convênio ou do Serviço Público. Para o bom Médico, todos os pacientes são importantes. Todos os pacientes merecem seus esforços e merecem um atendimento de alta qualidade.
Consultoria- Prof. Dr. Paulo S Lopes- CRM 56402 Médico Gastroenterologista e endoscopista. Tem 34 anos de experiência. Recebeu Bolsa de Estudos do Governo do Japão para PhD na Tokyo Medical University. Fez Pós Graduação nas Universidades de Harvard e Johns Hopkins - Estados Unidos, Foi ligado também ao Centro de Prevenção do Câncer da ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, Nova Iorque. Foi Visiting Scholar em Yale. O Dr. Paulo recebeu 5 Premios no Brasil. Atualmente, além de sua prática médica, dedica-se a Atividades Filantrópicas nos Estados de S. Paulo e Paraná.
Muito importante: Estas notas , mesmo acuradas, jamais substituirão a avaliação médica. Nossa recomendação para pessoas com os problemas descritos é serem avaliadas por profissionais de sua confiança.Temos apenas o desejo de oferecer orientação, embora genérica.
Ao escrever, colocamos situações hipotéticas, embora comuns. Imaginamos a presença de profissionais e recursos de alto nível. Porém não conhecemos, em geral, a realidade das localidades dos nossos leitores. . Quando nos referimos á médico, no masculino, referimo-nos igualmente ás médicas mulheres, só omitidas ali por questão de espaço.
Não recomendamos diagnósticos ou tratamentos, e muito menos profissionais por esta coluna. A informação, mesmo cientificamente acurada, é genérica e não se aplica a casos individuais. Não queremos substituir a avaliação médica atenta, individualizada e específica.